Um menino chamado Paulo

quinta-feira, agosto 20, 2015


Meu primeiro dia de aula deste ano foi um tanto quente. Rio 40º já é quase uma música referente ao inverno! Deixar os meus cachos à solta não rola, então foi com um coque bagunçado que passei pela roleta do ônibus.

Poucas paradas depois vejo uma mãe e seu filho subirem as escadas e escolherem um assento próximo ao meu. Era o primeiro dia de aula do menino, Paulo, que só fazia chorar. A mãe buscava ministrar as palavras da melhor maneira possível, mas, quando nosso coração está agitado, só consegue ouvir a voz da insegurança.

“Uma bobagem!”, talvez pense ele mais tarde. Afinal, que são bonecos de massinha de modelar comparados aos cálculos algébricos do Ensino Médio? Mas todos já fomos Paulos. Todos já tivemos medo da escola. Hoje, a escola tem outro nome. Chama-se desconhecido.

Imagino o que deveria estar se passando na cabeça deste menininho enquanto ele chorava. “O que acontece por lá? Eu vou ficar sozinho… Por que a minha mãe tá fazendo isso comigo?” Uma sucessão de lágrimas, um turbilhão de pensamentos. O choro é assim: os olhos transbordando aquilo que alma não pode mais conter. Para mim, esta é uma das expressões mais plenas da intensidade e multiplicidade do espírito humano. Choramos de raiva, de alegria, de dor, de exaustão, por medo, por ansiedade, choramos de emoção.

Creio que hoje muitos olham para trás e pensam quão bobas foram algumas de suas lágrimas. Se cada ser humano dispusesse de uma determinada quantidade delas para usar durante toda a vida, aposto que alguns certamente não as gastariam com paixões platônicas pré-adolescentes, lamentos por notas baixas ou, até mesmo, o primeiro dia no jardim de infância. Felizmente não existe nenhum reservatório de lágrimas e podemos deixá-las rolar em todas as fases da vida: diante da reprovação no vestibular, de um emprego perdido, de uma briga entre companheiros, ou da perda de um amigo querido. Salgadas. Transparentes. Libertadoras.

Gostaria muito de saber como terminou o dia do Paulo, mas, como afirma aquele trocadilho ridículo (peço desde já que me perdoem), “tudo na vida é passageiro, menos o cobrador e o motorista”. Quanto ao tal do desconhecido, deixe o medo dar lugar à curiosidade. Busque estreitar relações com o inexplorado. Comece chamando-o de “imprevisível”, para não se esquecer que o imprevisível pode ser surpreendente. Eu li num dos meus livros favoritos que a esperança não decepciona.

Escrito em fevereiro de 2014.

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