Para fazer feliz teu filho

quinta-feira, agosto 20, 2015

Foto por Masa_0202.
Durante o terceiro trimestre do segundo ano, os professores de língua portuguesa cismaram que a gente tinha que aprender a escrever umacarta argumentativa. Como dever de casa, então, pediram que escrevêssemos a Carlos Drummond de Andrade, respondendo à pergunta contida em seu poema de mesmo nome: como fazer feliz meu filho? Sempre quis, aliás, sempre sonhei em receber uma carta, e já que o máximo que pude obter foi uma daquelas comerciais, impressas e sem graça, resolvi escrever como gostaria que alguém tivesse escrito pra mim. É assim que faço a maioria das coisas. 

Caro Drummond,

A vida me fez concluir que perguntas têm vida própria. Elas caminham por nossas mentes; vez por outra, saltitam pela língua alheia, que funciona como um trampolim. A partir daí, ficam livres para escalar montanhas, de onde abrem os braços, fecham os olhos e gritam sua essência indagadora, que ecoa pelos quatro cantos do mundo. Foi assim que sua pergunta chegou até a mim. 

Para fazer feliz seu filho, acorde-o de manhã com um beijo. Se considerarmos que nossa vida é feita de dias e que um acúmulo de dias felizes resulta numa vida mais feliz, acordar mal pode nos roubar preciosas horas de felicidade. Um beijo matinal não precisa ser prescrito, tampouco tem contra-indicações, e é uma ótima maneira de começar o dia. 

Também devo advertir-lhe que chegará um momento no qual todos os brinquedos disponíveis no mercado serão insatisfatórios. Novidades são recicladas. Obsolescência programada. Pedir o quê? Pedir pra quê? Mesmo assim, não deixe de presenteá-lo. No Natal, dia das crianças, aniversário. Escolha a embalagem mais bonita e colorida possível, para que ele mantenha sempre o entusiasmo crescente de desembrulhar, mais uma vez, seu presente inédito: você. Sua presença é o presente. 

Por fim, poderia escrever muitos outros parágrafos, mas prefiro não fazê-lo. Recomendo-lhe simplesmente que não lhe deixe faltar nada, mas se algo vier a faltar, que este não seja o amor. Amor é a síntese de todas estas palavras. Pois onde estaria a resposta para a pergunta do poeta, senão no poema? “Tudo, no coração, é ceia.” 

Cordialmente, 

Uma filha.

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