Alma de nuvem

quinta-feira, agosto 20, 2015


Estava tomando banho de piscina quando resolvi trocar a palidez natural do meu corpo por um bronzeado. Deitei naquelas tradicionais cadeiras de plástico reclinadas e esperei o sol deixar a timidez de lado. As nuvens queriam toda a minha atenção, e conseguiram. Só fazia pensar nelas.

Enquanto as observava, percebi que se moviam pouco a pouco. Imagino que experimentariam algo parecido com claustrofobia se decidissem transitar pela Rio Branco numa manhã de segunda-feira. Essa atmosfera de pressa não combina com elas. Levam a vida com leveza.

Além disso, nuvens têm um caráter admirável. Não são frescas, cheias de “não me toque”, nem fazem distinção de águas. Olham para os mares da Irlanda da mesma forma com que fitam o poluído Rio Tâmisa. São pedacinhos do mundo, formadas por diversos lagos, rios, mares, e até pela água daquele balde no qual você lavou algumas de suas blusas. São uma condensação de diferenças, e ainda assim as olhamos sem preconceitos, como se fossem iguais.

Talvez nuvens sejam o elemento mais invejável da natureza. Podem chorar quando estão fartas das cargas que carregam sem serem julgadas por isso. Viajam o mundo sem pagar passagem e, de quebra, ainda são levadas pelo vento. Sem despesas, nem cansaço. Sim, porque as nuvens também são mestres na arte do disfarce. Parecem levíssimas, mas têm o peso de 100 elefantes. Elas não seguem padrões de beleza, mas ninguém liga para o fato de serem gordinhas.

O mais legal de tudo, pra mim, é que as nuvens são solidárias, nem um pouco egoístas e não se importam em dividir seu palco azul com a nossa criatividade. Respiram a nossa imaginação e projetam naquela imensidão corações, sorvetes, cachorrinhos, carruagens, dragões, e tudo o mais que nossa mente permitir. Até o sol aparecer… E tostar as pernas de uma menina branquela.

Escrito em fevereiro de 2014.

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